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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Só sujeiras E-mails oficiais de Venina derrubam tese do governo sobre ignorância de Graça na corrupção da Petrobras

A Petrobras não tem como contestar a veracidade dos e-mais enviados à Maria das Graças Foster pela geóloga Venina Velosa da Fonseca denunciando o megaesquema de corrupção na estatal de economia mista. Assim, torna-se infrutífero e ridículo o esforço do governo em insistir na velha tese da "apedêutica ignorância" (ninguém sabia de nada, mas deveria ser obrigado a saber) para tentar salvar a insustentável cabeça de Graça e demais diretores da petrolífera prestes a ter sua nota de risco rebaixada, o que lhe cortará o crédito para rolagem da gigantesca dívida e impedirá que seus papéis sejam negociados no exterior.
A tática do governo é tão burra que forçou a Comissão de Valores Mobiliários a pelo menos tentar mostrar ao mercado que não é uma mera autarquia do Ministério da Fazenda do mesmo governo da União que controla a Petrobras - e que, por infeliz coincidência, também tem o ministro Guido Mantega acumulando o rico jeton de Presidente do Conselho de Administração da petrolífera. Sem entrar no mérito deste descarado conflito de interesses - que já irrita investidores internacionais e será questionado nos tribunais dos EUA -, a CVM exigiu que a Petrobras cumprisse o ritual de soltar um comunicado ao marcado para tentar vender a versão impossível de que Graça não fora oficialmente informada sobre os indícios do "Petrolão".

A Presidenta Dilma Rousseff, que será diplomada amanhã pelo TSE para seu segundo mandato previsivelmente turbulento e com risco de começar mal e acabar péssimo, faz das tripas coração para manter a amiga Graça na Presidência da Petrobras. Dilma simplesmente não tem um nome de sua confiança pessoal para colocar no cargo. Ela não quer que a jóia da coroa volte a ser colocada na cabeça dos petistas que lhe fazem oposição intestina. Só muito a contragosto, Dilma trocaria Graça por Luciano Coutinho - o que também seria uma operação suicida. O presidente do BNDES, que também faz parte do Conselhão da Petrobras, é o perito financeiro designado para responder pela estatal junto à Bolsa de Nova York - justamente onde investidores processam a petrolífera tupiniquim.

Por tudo isto, a quixotesca manobra do governo para salvar Graça tem tudo para se transformar em uma piada absolutamente sem graça. Torna-se insustentável a mentirinha de que Graça só soube das denúncias de Venina no e-mail enviado em 20 de novembro deste ano - conforme comunicado oficial da Petrobras ao mercado. O mesmo argumento falso para defender Graça foi usado pelo seu "cunhado", o vice-presidente da República. Michel Temer é maçom diretamente ligado à Grande Loja Unida da Inglaterra, da qual o marido de Graça, Colin Vaugn Foster, é o dirigente máximo para a América Latina. Na Maçonaria, as esposas dos irmãos são chamadas de "cunhadas". Apenas por coincidência do Grande Empreiteiro do Universo, outro que tentou defender Graça não é maçom, mas é "Lowton" (parente de maçons oficialmente reconhecido pela Ordem): José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça.

Intrigas maçônicas à parte, os e-mails de Venina lançam luzes sobre as trevas do Petrolão. As mensagens via internet revelam que Graça foi informada pela primeira vez sobre os problemas na Petrobras exatamente às 3h50 do dia 3 de abril de 2009. Pelo correio corporativo reservado da empresa, Venina pediu ajuda a Graça para concluir um texto em que descrevia irregularidades. Naquele momento, Graça era diretora de Gás e Energia e Venina, gerente executiva da Diretoria de Abastecimento. O texto era claro: "Gostaria de ter uma opinião sua sobre um texto final que preciso encaminhar. Posso deixar para você ler? Você sabe qual é o assunto. Fique à vontade se você achar melhor não ler. Aguardo sua resposta para deixar ou não o material com a sua secretária."


Graça fica em desgraça por causa de revelações de Venina ao jornal Valor Econômico. No mesmo 3 de abril de 2009, há um "Documento Interno do Sistema Petrobras", chamado de DIP, em que Venina concluiu pela ocorrência de "irregularidades administrativas" na área de comunicação do Abastecimento. A geóloga se referiu era uma auditoria presidida por ela para desbaratar um esquema 
que desviou milhões de reais da estatal.

O Valor informa: "O esquema beneficiou integrantes do PT da Bahia - o mesmo grupo político do então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Venina escreveu para Graça na madrugada, pouco antes de concluir o DIP em que pediu a demissão de Geovanne de Morais. Ela procurou Graça para obter ajuda. Sozinho, o militante petista Geovanne pagou quase R$ 38 milhões a serviços não realizados na área de comunicação. O desvio foi maior do que isso: R$ 58 milhões em contratos, cujos serviços não foram prestados. Foram identificadas também notas fiscais com o mesmo número, totalizando R$ 44 milhões na área de comunicação". 

No texto mandado para Graça, Venina pediu que Geovanne fosse retirado imediatamente da empresa e apresentou um parecer jurídico para tanto. "A demissão deve ser implementada ainda que esteja o empregado gozando de auxílio doença, visto o risco representado pela manutenção de seu vínculo empregatício para a continuação das averiguações". Na nota oficial divulgada ontem, a Petrobras ialegou que Geovanne não foi demitido, em 2009, porque "seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica". A demissão dele só foi efetivada muito tardiamente, quatro anos depois, em 2013.
O Valor informa que Geovanne foi mantido nos quadros da estatal por pressões internas feitas por Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento. A desculpa esfarrapada de Costa para que Geovanne ficasse foi a mesma utilizada na nota divulgada ontem pela Petrobras: a de que ele estava em licença médica. "Paulinho" (como Lula chamada o então poderoso homem da Petrobras) agora é um "colaborador premiado" da Operação Lava Jato. Ele ainda tem muito a revelar, quando for obrigado a falar ao Supremo Tribunal Federal, na hora do juízo semifinal, quando os políticos com absurdo foro privilegiado forem denunciados.
Venina escreveu a Graça: "O que aconteceu dentro do ABAST (Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo. Infelizmente, eu não sou sozinha, não posso me aventurar aqui fora. Se pudesse, pode ter certeza que é o que eu faria. Porém, se não posso lutar aqui fora, vou para o Brasil para brigar pelos meus direitos. Eu não fiz nada errado. Não vou aceitar ser penalizada pelo que não fiz. Não vou, de forma alguma, aceitar isto! Se eu não consigo dialogar dentro do ABAST não tenho outra alternativa a não ser procurar outros meios, mas eu não gostaria de fazer isto sem antes conversar com você."
Venina deixou claro que parte da documentação que possui sobre irregularidades já era de conhecimento de Graça. "Existem alternativas que eu estou avaliando apesar do receio de trazerem risco para mim e para minhas filhas. Gostaria de te apresentar parte da documentação que tenho, parte dela eu sei que você já conhece. Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo. Não quero te passar nada sem receber um sinal positivo da sua parte. Mesmo que você se recuse a se envolver nisto, vou continuar te admirando pela mulher corajosa, firme e respeitada que você é e que chegou aonde chegou sem ter que abrir mão dos valores que tem. Minha admiração e respeito por você vai além desse problema que estou te apresentando. Me desculpe por tomar seu tempo, tentei ser breve mas a emoção não permitiu."
O Valor lembra que, cinco meses após essa mensagem, Graça se tornou presidente da Petrobras. Venina foi trazida de volta para o Rio, onde lhe deram uma sala, mas lhe pediram que não fizesse nenhum trabalho. Sem alternativas, ela volta para Cingapura, onde abre investigação contra um novo esquema de desvio de dinheiro, agora, envolvendo negociadores de combustível de navios, chamados de bunkers. Em 19 de novembro, Venina foi comunicada que seria afastada de suas funções. Um dia depois, escreveu novamente a Graça:
"Hoje, fui surpreendida com um telefonema do gerente executivo, informando que eu estava sendo destituída. Novamente, agora em Cingapura, me deparei com outros problemas, tais como processos envolvendo a área de bunker e perdas, e mais uma vez agi em favor da empresa, tentando evitar atos contra os interesses dela. Não chegaram ao meu conhecimento as ações tomadas no segundo exemplo citado, dando a entender que houve omissão daqueles que foram informados e poderiam agir", lamentou. "Não posso aceitar mais este sofrimento e esta injustiça. Sinto, mas terei de usar todas as ferramentas disponíveis para minha defesa."
Por causa dessas provas, Graça tem tudo para cair em desgraça política. Embora informada sobre todos os problemas, certamente sabendo dos desvios que aconteceram na estatal, ela mentiu à CPI Mista da Petrobras, em 11 de junho. Graça alegou que não sabia de irregularidades na companhia, mas apenas de suspeitas. A cabeça dela será pedida hoje pela oposição.

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