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domingo, 1 de setembro de 2013

Vai roubar pra ser preso!



Vai roubar para ser preso! Esta era a bronca que o veterano locutor esportivo José Cunha, nos velhos tempos de transmissão pela TV Educativa do Rio de Janeiro, dava ao jogador que fazia alguma grande besteira com a bola. O desabafo do Cunha nunca esteve tão atual e aplicável aos nossos políticos. Ainda mais depois que o Brasil inaugurou a Era do Presidiário-Parlamentar, com o agora famoso Natan Donadon, até outro dia um ilustre desconhecido no Congresso.

Roubar para ser preso, no imaginário do Governo do Crime Organizado no Brasil, vale muito a pena. Vide os mensaleiros. Podem até puxar uma cadeia... Quem sabe... Mas o patrimônio que acumularam – em muitos casos milionário – continuará intocado, à disposição deles, quando terminarem de cumprir as penas duramente impostas pela Teoria do Domínio do Fato no Supremo Tribunal Federal. Para os condenados na Ação Penal 470, tirando a vergonha de tomar uma vaia ou outra nas ruas, o crime compensou. E muito!

Agora, temos o esdrúxulo caso Donadon. Trata-se de um “desexemplo” – como se diria lá pelas bandas de Saramandaia. O paralamentar presidiário, condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias de prisão, tem privilégios na cadeia, porque continua sendo deputado federal. O mandato mantido pelo corporativismo sem vergonha de nossa classe política lhe garante uma cela individual no superlotado Presídio da Papuda, em Brasília, que abriga cerca de 1500 presos cumprindo penas por roubo, homicídio e tráfico.

Donadon fica bem longe deles. Não os vê, nem pode ser visto por eles. A hospedagem especial de Donadon é um cubículo de dois por três metros. Na cela especial do paralamentar tem colchão, uma televisão e um chuveiro. Pena que a água seja gelada, apenas... Claro, a privação da liberdade é uma punição, mas é bem atenuada no caso dele que só é obrigado a vestir a mesma calça, camisa branca e chinelo de seus colegas do Parlatório da Papuda - que as más línguas alegam ser uma sucursal do Congresso... Que injustiça com os presos comuns...


Donadon recebe três refeições por dia (café, almoço e jantar). Pode tomar duas horas diárias de banho de sol. Recebe visitas do advogado Nabor Bulhões e de familiares às quartas ou quintas, das 8 às 16 horas. Quando acabar seu mandado, a previsão é de que perca a mordomia... Mas uma ida para a cela coletiva só acontece (se realmente acontecer) depois do final de 2014... Até lá muita água suja deve passar por baixo do rubicão da impunidade tupiniquim...

Em 2010, o caso Donadon quase foi um exemplo de armação judicial bem sucedida. Quando foi denunciado pelo Ministério Público, e seu julgamento foi marcado no Supremo Tribunal Federal, por ter foro privilegiado, Donadon, providencialmente, renunciou ao mandato. Preferia ser julgado na Justiça de Rondônia. O STF percebeu a tramoia e resolveu que julgaria o processo dele. Donadon acabou se reelegendo deputado federal e reconquistou a imunidade parlamentar que agora o beneficia.

Agora, seu super advogado Nabor Bulhões, um dos mais conceituados e caros criminalistas do Brasil, pretende recorrer ao STF pedindo a revisão da condenação do paralamentar presidiário. Quem sabe, com uma nova composição, o Supremo dá uma aliviada no caso Donadon? Tentar não custa nada. Donadon tem muita bala na agulha para pagar por sua defesa...

Por isso, a frase do velho amigo Zé Cunha permanece atualíssima: Vai roubar pra ser preso... No Brasil, o crime compensa... Até segunda ordem em contrário... E vamos nos preparar para o pior... A novela Xicana da Silva está apenas começando e só deve acabar no Dia de São Nunca...

Vida dura na cadeia?

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