“O Brasil sempre foi pilhado pelas elites, moral e financeiramente. Mas o PT institucionalizou essa prática. E, pior, a democratizou”
Embora os cartazes dos manifestantes apontem e as condenem, as mazelas foram causadas por uma única e daninha característica: a arrogância das elites do país, que diziam que o país é de todos, mas achavam que era apenas deles.
São os guardanapos dos restaurantes estrelados no exterior, na cabeça de políticos de duvidosa moral, os escarpins de sola vermelha, nos pés das madames deslumbradas com recursos não contabilizados, as frases de desfaçatez, ditas sem receios, como “O SUS está à beira da perfeição”, o “O PT não rouba e não deixa roubar”, ou “A crise aqui é marola”, ou banalizar o crime, chamando-o de falha administrativa, caracterizando o completo desrespeito à inteligência e sensatez alheias.
Foi a arrogância de uma presidente a determinar ser chamada de “presidenta”, quando a sociedade civil, Legislativo, Judiciário, e especialmente a imprensa a chamam como deveria ser, de presidente, termo comum de dois gêneros. Foi a arrogância de um partido que, em seus dez anos no poder, deixou de pensar no futuro, a não ser no seu futuro no poder.
Em tempos de bonança, navegando em mares tranquilos e ventos suaves, especialmente vindos do exterior e apesar da ampla maioria no Congresso, Lula, o estadista às avessas, o líder multiplicado por -1, não fez nenhuma reforma pensando no futuro, esquecendo-se que a tormenta, cedo ou tarde, acabaria vindo. Se as tivesse feito, dando continuidade ao governo anterior, apesar de protestos de quem só quer saber de benesses, seja povo ou elite, não estaríamos no estado em que estamos.
Mas seria querer muito de quem se alia com o que pior existe no país, só para se manter no poder, com a ética e decência jogadas no lixo! E que nunca quis saber de atritos, desde que continuasse nadando sem sobressaltos, gozando dos elogios de seus áulicos e das delícias de seu cartão corporativo, com gastos nunca revelados a quem paga a conta. E mais, muito mais, como os mensaleiros, aloprados, cuequeiros, sanguessugas,....!
Foi a arrogância de um Executivo que tem 39 ministérios e secretarias para propósitos eleitoreiros, e que aparelhou a máquina pública com correligionários não concursados, em detrimento de técnicos de carreira; que distribuiu dinheiro a ONG inidôneas, que nomeou políticos derrotados para cargos públicos, que deu asilo a bandidos internacionais, apoio a ditadores de ideologias perversas e fracassadas, e perdoou dívidas de ditadores africanos.
Foi a arrogância de vassalos e aproveitadores de toda ordem, a chamarem Lula de “nosso guia”, de conhecido lambe-botas, ou o “Lula é Deus”, de sabida e festiva perua, ou a bravata do “mexeu com Lula, mexeu comigo”.
Foi a arrogância do Legislativo, achando que pode tudo, ao se dar aumentos desmedidos, a patrocinar “trens da alegria”, a pagar salários altíssimos a garçons, a nomear cupinchas por atos secretos, a jogar no lixo abaixo-assinado para que Renan saia, ao comprovar verbas indenizatórias com recibos falsos, a reter para si parte de salários de membros de seus gabinetes, do voto secreto, do Conselho de Ética suspeito, do “vício insanável da amizade”, do foro privilegiado, da imunidade e das emendas parlamentares, dos marajás do serviço público, da farra das passagens aéreas no Senado, do plano de saúde vitalício para senadores, ex-senadores e seus familiares, mesmo que tenham exercido o cargo por poucos dias, a desafiar o estado democrático de direito com PECs inaceitáveis, a mais ousada delas a de submeter decisões do STF ao Congresso. E mais, muito mais!!
Foi a arrogância de um sistema eleitoral perverso, com partidos nanicos existindo só para se venderem, com campanhas financiadas por empresas e empresários que sempre retornam para cobrar as faturas, de senadores suplentes sem voto, de um quociente eleitoral canhestro, em que se vota em um e também se elege quem não se quer.
Foi a arrogância do Judiciário, em seus palácios suntuosos, em suas férias exageradas, em sua burocrática processuística, em suas decisões divorciadas da opinião pública, em sua lentidão e bondade para julgar, em seu vergonhoso e retroativo auxílio-alimentação, em suas festas e congresso patrocinados por quem pode ser réu, no uso de camisetas de cervejaria no sambódromo. São o respeito exagerado a agravos e embargos, sabidamente procrastinatórios, para evidentes culpados, as presunções de inocência, o engarrafado trânsito em julgado, os juízes corruptos apenas aposentados, em vez de demitidos e processados como qualquer criminoso, etc, etc, etc.
Foi a arrogância dessas elites pilhando o país, achando-se acima do bem e do mal, desconsiderando, durante todos esses anos, cartas dos leitores e inúmeros artigos nos jornais, revistas e blogs, de vários e renomados articulistas, criticando a frouxidão moral e a forma leviana da condução do país por eles, especialmente por um partido que se arrogava deter o monopólio da ética e se mostrou ser o mais corrupto de todos, nunca antes na História deste país!
Cansado dessa arrogância, desse desrespeito e audácia que causaram todas as mazelas reconhecidas, o povo foi às ruas e os arrogantes estão recolhendo os cacos, temendo pelos seus bens, a maioria incomprovados e alaranjados, trocando o vermelho-orgulho pelo amarelo-vergonha, inclusive nos sorrisos, a soberba pela humildade, a ereção pela ajoelhação, propondo pactos e medidas desesperadas, qual ratos em navio afundando, pois sabem que as reeleições, em todos os níveis, estão como esse mesmo navio, fazendo água por todos os bordos.
Mesmo sabendo que as próximas escolhas e renovações sejam difíceis, com as mesmas figuras lindinhas e garotinhas de sempre, alcançamos, com as manifestações, duas indiscutíveis alegrias contra esses arrogantes e odiosos brasileiros: o nocaute que sofreram, do alto de suas soberbas, jamais imaginando essa reação dos que supunham estarem dominados e anestesiados por migalhas sociais; e a de que agora, reentrando na atmosfera, saberem que nada mais vai ser como até então.
Se assim for e o PT se esfarelar, o Brasil, esse estado democrático e de direito, ressurgirá revigorado, sob o império da ética e do respeito e interesse público. É o que as manifestações querem e os brasileiros de bem esperam!
Fora arrogantes pilhadores do país e roedores das esperanças do bem comum, da inclusão social, da dignidade e decência, de um país verdadeiramente de todos!!!!
Com a alma em festa e a esperança renovada, cantarolo e desfraldo meu cartaz de passeata, escrito com a estrofe da velha, mas inteiramente atual, canção “Como uma Onda”, de Lulu Santos e Nelson Motta:
“Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia...”
adsumus
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