Escolas desorganizadas, inseguras e matérias sem utilidades. Este é o resultado da pesquisa “O que pensam os jovens de Baixa Renda sobre a escola”, que ouviu mil jovens de 15 a 19 anos de Recife, Rio e São Paulo e investigou o tipo de relação que esses jovens, estudantes ou não, estabelecem com as escolas de Ensino Médio.
pesquisa, da Fundação Victor Civita e Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), foi realizada em um ambiente fora das escolas, para que os jovens egressos também pudessem participar (apenas 51% dos jovens entrevistados estavam matriculados no ensino médio) e aqueles que não tiveram uma boa experiência com a escola se sentissem mais a vontade para responder as perguntas. “É muito importante dar voz para esses personagens que muitas vezes não são escutadas”, explica o coordenador da pesquisa, Haroldo da Gama Torres.
As questões que nortearam o estudo foram: Quem eram esses jovens que chegaram ao Ensino Médio? Quais são as atitudes e percepções do grupo em relação ao Ensino Médio? Até que ponto essas percepções influenciam na trajetória educacional? Como resultado do perfil dos jovens, nota-se que o trabalho é percebido como importante não só pela ajuda financeira em casa, mas também para o consumo próprio de produtos e independência - apesar deste trabalho ser considerado precoce já que a legislação atual proíbe qualquer trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz.
O estudo aponta que falar sobre a escola com os jovens é difícil, o assunto não aparece nas conversas entre si e a instituição é considerada apenas como um ponto de encontro. Um em cada cinco alunos só vai à escola para conseguir o diploma, e as expectativas em relação ao Ensino Médio são baixas e nem sempre atendidas.
Além dos aspectos clássicos percebidos sobre o abandono escolar, como a idade elevada dos alunos, maternidade e reprovação frequente, o pesquisador Torres defende que há outros fatores possíveis de influência para que se tenham mais jovens matriculados no Ensino Médio.
Dentre as causas do descontentamento estão: a desorganização, já que 76,7% dos entrevistados relatam que situações de “zoeiras” são comuns em salas de aula, a ausência frequente de professores (42% deles não tiveram alguma aula no dia anterior à pesquisa) e a insegurança no ambiente escolar (24% dos respondentes não se sentindo seguros na escola).
A visão de inutilidade em muitas disciplinas oferecidas também é um ponto de discussão. Física, sociologia e literatura, por exemplo, estão abaixo dos 20% de estudantes que acreditam que essas matérias façam sentido. Outro ponto crucial levantado na pesquisa é a falta de tecnologia nas escolas. Cerca de 70% dos entrevistados têm acesso à internet em casa e 57% em celulares, mas 37% dos alunos nunca usaram o computador na escola.
Para Torres, as escolas de Ensino Médio não estão preparadas para atender a juventude. “Não há possibilidade das escolas não terem tecnologias. O ponto a se discutir é qual tecnologia usar a favor da educação. Esses aspectos relacionados à percepção podem ser trabalhados para que diminua a barreira da permanência dos jovens mais vulneráveis no Ensino Médio”, completa.
Para a diretora executiva da Fundação Victor Civita, Angela Dannemann, a pesquisa, que teve a parceria do Banco Itaú BBA e da Fundação Telefônica Vivo, é mais uma ação positiva trabalhada em conjunto com outros investidores sociais a fim de promover conteúdos que preencham as lacunas existentes sobre as evidências empíricas da educação básica. “Esta pesquisa complementa os resultados apresentados no estudo que realizamos no ano anterior com a Fundação Carlos Chagas, que revelou a falta de infraestrutura e a rotatividade dos docentes nos últimos anos do ensino fundamental.”adsumus
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