Mais dois chefões do narcotráfico fogem de presídio de Rondônia para o Rio
A dupla já buscou abrigo no Complexo do Lins, onde se rearticula para voltar ao crime.
Após quase duas décadas atrás das grades, Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, e Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu, estão de volta ao tráfico no Rio. Cumprindo pena numa unidade estadual de Porto Velho, em Rondônia, eles estão foragidos desde a última sexta-feira, quando deveriam ter voltado de uma visita de sete dias à família. De acordo com a polícia do Rio, a dupla já buscou abrigo no Complexo do Lins, onde se rearticula para voltar ao crime. Presos até abril deste ano na unidade federal de segurança máxima de Porto Velho, Claudinho e Fu foram beneficiados com progressão para o regime semiaberto.
Com o caso, já são três os traficantes do Rio que estavam em presídios federais, e fugiram após ganharem benefício e conseguiram transferência para unidades estaduais que não sejam no estado de origem. Na última sexta-feira, o EXTRA mostrou que José Benemário da Silva, o Benemário ou Come Rato, que cumpria o semiaberto na Paraíba, fugiu em fevereiro de 2013 e já está de volta ao tráfico no Rio. As defesas dos criminosos têm usado a recusa da Vara de Execuções Penais (VEP) do estado em recebê-los de volta para pedir transferência para outros estados. A manobra já foi identificada pelo Ministério Público estadual.
Antes de irem para o Penitenciária estadual Edvan Mariano Rosendo, em Porto Velho, para onde não voltaram, Claudinho e Fu chegaram a passar pelo Mato Grosso. No início deste ano, a defesa da dupla, com base na impossibilidade da volta para o Rio, conseguiu vaga no estado do Centro-Oeste. Em abril, eles foram transferidos. Mas a estadia foi curta.
Ao tomar conhecimento da ficha criminal dos traficantes, em 16 de maio, a juíza da VEP do estado, Nilza Maria Possas de Carvalho, fez contato com a Justiça estadual de Porto Velho, de onde eles haviam saído, pedindo que os recebesse de volta. A solicitação foi aceita.
Em e-mail enviado para o juiz Acir Teixeira Grécia, da VEP de Rondônia, a magistrada alegou que as unidades prisionais do Mato Grosso já estavam superlotadas e não tinham segurança para recebê-los. Em resposta, Grécia disse que a dupla deveria retornar ao Rio, e que Rondônia também não tem condições de abrigá-los, pois a unidade de semiaberto é “precária, com pouca segurança, e insuficiência de vagas”. Ainda assim, Grécia aceitou os dois de volta em maio.
Visita à família
Apesar de terem conseguido o semiaberto, Fu e Claudinho não usufruíam do regime, pois ainda não tinham obtido emprego. Na última semana, eles conseguiram direito a visitar a família por sete dias e não voltaram. Claudinho e Fu conseguiram direito à progressão de regime em dezembro de 2011. Desde então, a Justiça do Rio entra com recursos para tentar mantê-los na penitenciária federal. No início deste ano, a Justiça Federal de Rondônia determinou que a decisão de quase dois anos atrás fosse cumprida.
Ao ser consultada sobre a transferência da dupla para o Mato Grosso, a Justiça do Rio concordou. A postura foi considerada contraditória pela Justiça Federal. “Ao mesmo tempo em que se nega a receber o preso ao argumento de que ele oferece risco à sociedade e precisa ser mantido custodiado em penitenciária federal de segurança máxima, manifestou-se favorável ao pedido de transferência do interno a uma das unidades penais do Estado do Mato Grosso, condicionando a tão somente à demonstração que tenha vínculo de parentesco”.
A Secretaria de Segurança Pública do Rio e o Tribunal de Justiça do estado, procurados pelo EXTRA, não quiseram comentar as fugas.
Em 2011, durante vistoria da Secretaria de Justiça de Rondônia, na Penitenciária Edvan Mariano Rosendo, conhecida como Urso Panda, um visitante foi flagrado entrando com 20 celulares, 30 carregadores de celular, 14 fones de ouvido e duas serras dentro de um televisor.
Tráfico e sequestros no currículo
Claudinho da Mineira e Ricardo Fu, que são primos, figuraram, nos anos 90, entre os principais chefes da maior facção criminosa do Rio. Eles estiveram à frente do tráfico nos morros da Mineira, São Carlos, Querosene e Zinco, que fazem parte do Complexo do São Carlos. As comunidades estão pacificadas. Antes da entrada da polícia, o comando do tráfico já estava nas mãos da facção rival àquela que a dupla integra.
Condenado a 70 anos e dois meses de prisão, Claudinho foi preso pela última vez em 1997. Além do tráfico, sua fama é pelos sequestros que comandava. O mais conhecido deles foi o do empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, em 1995. O bandido é acusado ainda de participação na rebelião em Bangu 1, em 2003, quando foram mortos quatro detentos, entre eles Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, que teve o corpo carbonizado. Claudinho ainda será julgado pelo crime.
Fu da Mineira estava preso há quase 20 anos. Ele já tinha sido condenado a 89 anos e 10 meses de prisão. A Lei de Execuções Penais permite a progressão de regime depois de um sexto da pena ter sido cumprida. Ao serem transferidos, em 2007, Ricardo Fu e Claudinho foram acusados, junto com outros dez criminosos, de terem ordenado ataques a delegacias e ônibus no Rio. A transferência aconteceu logo que Sérgio Cabral assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro.
Pedidos de transferência
Na última quarta-feira, o EXTRA mostrou que desde o fim de 2011, seis traficantes do Rio que estavam em presídios federais de segurança máxima pediram transferência para unidades estaduais . Cinco deles conseguiram. Um deles é Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho, que está em Pernambuco. Ele é o único que conseguiu transferência, mesmo em regime fechado. Os outros tiveram direito ao regime semiaberto. O Ministério Público de Pernambuco está investigando a transferência de Dinho para o estado.
Em abril deste ano, a defesa de Marcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, que está em Catanduvas, no Paraná, também pediu transferência para Pernambuco, mas teve solicitação negada. No pedido, a advogada de VP, Cristina Rissi, alegou ter sido orientada a tentar transferência pelo então juiz titular da VEP, Carlos Eduardo Figueiredo. O magistrado teria dito que o estado não receberia de volta nenhum preso que estava em unidade federal. Figueiredo negou que tenha dado tal orientação.
A advogada Cristina Rissi disse, em entrevista ao EXTRA, que tenta transferência de VP para qualquer unidade estadual fora do Rio de Janeiro. Juizes dos estados para os quais os traficantes cariocas estão pedindo transferência dizem não ter condições de recebê-los, por já sofrerem com O juiz Carlos Borges, atual titular da VEP, em entrevista do EXTRA, negou que haja qualquer determinação na vara de não receber de volta presos que estão fora do estado.
Todos esses ataques aconteceram antem do Cabral assumir, com ele no poder, esses sementes do nal não se criam
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